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Aspetos conceptuais

A problemática da identidade

e o estatuto epistemológico

 

 

 

A dupla natureza epistemológica: estatuto e área científica

 

 

       “A definição da área científica da Psicologia Pedagógica ou da Educação envolve frequentemente disputas de carácter político-institucional, designadamente nas Faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação, quando está em causa a luta pelo poder académico. Mas o problema da definição disciplinar existe realmente e não é recente. Há várias fontes de ambiguidade, a começar pela denominação desta disciplina. A reflexão e a discussão surgem, pois, pertinentes, quer pela dupla designação a que se tem recorrido, quer pelo lugar particular que esta disciplina ocupa no seio das ciências psicológicas e da educação, sendo objeto de alguma controvérsia a definição do seu estatuto epistemológico” (Bidarra, 1998, p. 100).

 

       Diferentes autores concebem a psicologia da educação quer como uma disciplina fundamental, quer como uma disciplina aplicada : diferem assim quanto ao seu estatuto epistemológico;  no que diz respeito à área científica em que se insere – psicologia ou educação –  o consenso também aqui não predomina, inclinando-se uns para a conceber como uma área da psicologia, outros uma área da educação. Esta dupla natureza epistemológica, a definição dos seus conteúdos, o modo de entender as relações entre psicologia e educação revele-se com alguns a acentuar mais o polo da psicologia e outros o polo da educação; existe ainda quem defenda uma posição a meio caminho entre os dois polos – a psicologia da educação como uma disciplina ponte.

 

       A definição da psicologia da educação depende, assim, simultaneamente, do estatuto que esta disciplina assume como disciplina psicológica, do modo de conceber as suas relações com as restantes disciplinas psicológicas, e das diferentes posições epistemológicas sobre a natureza e estrutura das ciências da educação (Coll, 1988). No que se refere às relações entre a psicologia educacional e as restantes disciplinas psicológicas, registam-se várias posições — desde a mera transposição ou tradução do conhecimento em psicologia para a prática educativa às relações de independência (que valoriza o estudo das situações educativas) e de interdependência ou de interação (Coll, 1988).

 

       Na definição do estatuto epistemológico da psicologia da educação, estão em jogo diferentes conceções quanto às relações entre a psicologia e a educação. Frequentemente vista como a relação entre um conjunto de conhecimentos fundamentais em psicologia, mais ou menos vasto, e um campo de aplicação — a educação—, esta conceção, dita convencional, foi maioritária até aos anos cinquenta, refletindo-se no conteúdo dos manuais relativos a esta disciplina. Atualmente, alguns autores defendem ainda o seu estatuto de disciplina aplicada, ainda que concebam diferenças quanto aos conteúdos e ao modo como se opera esta aplicação, estabelecendo uma distinção entre a conceção da psicologia da educação como mero campo de aplicação dos conhecimentos em psicologia, da conceção de psicologia da educação como disciplina aplicada, sem que isto signifique atribuir-lhe um estatuto inferior (Coll, 1988, 1990).

 

       Podemos também questionar a unidirecionalidade da relação entre a psicologia e a educação, com a primeira a influenciar a segunda, no entanto é crescente o número daqueles que reconhecem as contribuições originais da psicologia da educação e a necessidade de ter em conta as características particulares das situações educativas e a sua influência na modificação dos comportamentos.

 

       Neste movimento, embora o princípio sobre a importância do conhecimento psicológico para a educação não sofra contestação, são discutidos o alcance real dos contributos da psicologia para a educação e a aplicabilidade educativa das grandes teorias da aprendizagem,  sobressaindo a dificuldade de  integrar os múltiplos resultados das investigações psicológicas, por vezes divergentes e contraditórios. Segundo o próprio Coll (1983) , aquilo que é pedido à psicologia é aquilo que ela não pode oferecer: uma explicação global dos processos educativos, em geral, e dos processos de ensino e aprendizagem, em particular, com suficiente apoio empírico, que reúna consenso entre as várias escolas de pensamento.  

 

       Wittrock (1992)  fala das desvantagens da definição convencional, dita arcaica, da psicologia da educação,  que a concebe como um campo de aplicação da psicologia,  por ser limitada, insuficiente, impedindo mesmo que se desenvolva  um corpo de conhecimentos organizado, consistindo numa estratégia ineficaz de estudo. Esta estratégia de aplicação por extrapolação de conhecimentos, obtidos em contextos diferentes dos contextos educativos fica posta em causa. Os problemas críticos do ensino, nesta abordagem, saem prejudicados por ter sido feita a seleção dos problemas a abordar, consoante os mesmos se adaptassem às soluções e ideias desenvolvidas noutros contextos.

 

       É pois fundamental que a psicologia da educação possua o seu próprio objeto de estudo, com a produção de novos conhecimentos e teoria e não se sujeite apenas ao que é desenvolvido noutros domínios da psicologia- que contribua para a resolução dos problemas da praxis educativa é o que se lhe exige para que se lhe possa atribuir a dimensão fundamental, além da sua dimensão aplicada.

 

       Ainda que aceitem que a psicologia da educação desenvolve os seus próprios programas de investigação e utiliza técnicas e métodos adequados, expressamente desenvolvidos para abordar problemas educacionais, outros autores definem-na como uma disciplina aplicada, mantendo-se a discussão aberta sobre o seu estatuto epistemológico. Tendo como objeto específico o estudo dos processos de mudança através da educação a psicologia da educação identifica-se com a teoria e tecnologia da mudança educativa (Coll, 1990). Embora a psicologia da educação tenha centrado os seus esforços no estudo das práticas educativas escolares, interessando-se pelos processos de mudança provocados pelas situações escolares de ensino-aprendizagem, vários autores incluem na psicologia da educação o estudo dos processos de mudança provocados ou induzidos por práticas educativas não escolares.

 

 

 

A psicologia da educação no quadro das ciências psicológicas

 

       A educação, sendo uma prática social que distingue a psicologia da educação de outros ramos da psicologia, distingue e confere um lugar original à P.E. no seio das outras disciplinas, mas também a aproxima de algumas como seja a psicologia do desenvolvimento, psicologia social e psicologia da aprendizagem. Uma coisa não se pode negar, é o seu estatuto particularmente relevante devido à sua razão mesmo de existência – a educabilidade humana.  Sendo a educação a fonte principal de mudança, reconhece-se à psicologia da educação o seu papel no estudo da plasticidade das condutas humanas: (...)

Wittrock apresenta, ainda, uma definição compreensiva e unificadora da psicologia educacional, como o estudo das condutas humanas complexas em situações educativas, demarcando-se da definição convencional que a concebe como a aplicação da psicologia à educação: “Educational psychology is more than conventional wisdom’s definition of it as the application of all branches of psychology to education Educational psychology is the scientific study of psychology in education  (Wittrock, 1992, p. 129).

 

       Em suma, neste processo de afirmação disciplinar ou procura da identidade, a imagem que sobressai é a da existência de dife rentes possíveis selves e de perspetivas múltiplas para a psicologia educacional, desde que se mantenha a referência a modelos psicológicos e o “compromisso” com o desenvolvimento da educação, independentemente da maior ou menor atenção atribuída a cada um destes aspetos por parte de psicólogos educacionais .

 

       Podemos então referir que o que caracteriza esta disciplina é a possibilidade de assumir diversas identidades, como num caleideiscópio capaz de produzir várias combinações e articulações entre a psicologia e a educação. Tal como referem Glover e Ronning (1987, p. 13): “In many ways, the diversity that seems our major characteristic is a very powerful strength. Education and psychology are extremely broad fields that we must interface in many ways”.

 

Como enfrentar, então, esta crise identitária?

 

       Multiplicam-se as propostas programáticas, as críticas e autocríticas, perde-se a unidade de perspetivas de como melhorar o ensino e as práticas educativas, de conceber a natureza e os objetivos e as prioridades da P.E. como âmbito de conhecimento. Uma característica sobressai: diversidade de perspetivas, escasso acordo sobre o que é a Psicologia da educação (Coll et al., 2004, p. 31).

 

A  Psicologia da Educação deve, assim, ser encarada como:

  • Uma disciplina fundamental e autónoma com um domínio próprio

  • Processo educativo, utilizando conhecimentos da Psicologia científica;

  •  Contemplar diversas dimensões do desenvolvimento psicológico (cognitivo, afetivo e relacional) e dos processos de ensino e de aprendizagem;

  • O desenvolvimento dos alunos;

  • As estratégias de ensino;

  • As atitudes dos professores,

  • A resolução de situações problemáticas em contexto educativo.

 

 

       Num futuro que se deseja próximo, a sua utilização na formação de pais, sobretudo dos pais de alunos com maiores dificuldades de desenvolvimento e de aprendizagem, poderá constituir um campo de intervenção psicológica, dado o seu impacto pessoal e familiar (Veiga, 2002; Woolfolk, 2010).  A Psicologia da Educação possui, pois, um objeto próprio, os processos educativos, e recorre aos variados métodos e às diferentes teorias da psicologia científica, caraterizando-se por um pluralismo epistemológico.

© 2015  Grupo 8 de Psicologia da Educação da FPCEUC

 

António Morais Diz          2012121459

 

Manuel Vicente Farinha   2012135569

 

Marco Silva Martins        2012119151

 

Maria Isabel Santos        2012121111

 

Maria João Varela           2012119190

 

Pedro Jorge Silva           2011128923

 

 

 

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