


Psicologia da Educação

-
Surgimento da Psicologia da educação
Uma perspetiva histórica
Surgimento da Psicologia da Educação enquanto ciência
A Psicologia da Educação surge da confluência de áreas distintas e complementares: Psicologia e Ciências da Educação e assenta na crença racional de que é possível melhorar a aprendizagem e o ensino pela utilização cabal dos conhecimentos da psicologia geral e, pese embora o consenso em torno deste princípio, as vicissitudes começam quando se pergunta qual o melhor modo de pôr tal princípio em prática ou o que significa a aplicação correta dos princípios da psicologia na educação.
Convém sublinhar as diferentes linhas de orientação que estão na base destas discordâncias, que se originam antes ainda do aparecimento da psicologia científica e que radicam nos precursores da discussão teórica/ filosófica dando origem ao estado atual (Coll et al., 2004, p.p 29-30).
Antes do século XX
As raízes da Psicologia estendem-se à Grécia antiga. Bem mais tarde, refira- se a influência de Locke (século XVII), que considerava o homem como uma tabula rasa que assimilava os conhecimentos passivamente. Já para Kant (século XVIII) quem comanda o processo é o indivíduo dirigindo ativamente o seu desenvolvimento. A autonomia da psicologia que se impôs como ciência no século XIX foi também um marco importante e ora tem sido atribuída a Wundt (1879), ora a Pavlov, ou ainda a william James, dependendo de quem “escreva” a história. Certo é que tiveram uma enorme influência na cientificação da psicologia sendo que William James terá tido um especial carinho pela psicologia educacional, cujo ensino e aprendizagem defendia terem de ser estudados dentro da sala de aula – no seu habitat natural, para melhor se inteirar dos seus reais problemas (Sprinthall & Sprinthal, 1993). Já Edward L. Thorndike influenciou decisivamente o meio ao abandonar a sua perspetiva inicial de uma “fé inquebrantável” nas Ciências Psicológicas – na qual a psicologia da educação era rainha – e na potencialidade da investigação científica para estabelecer as leis gerais da aprendizagem. O nascimento da Psicologia da Educação surge mesmo associado ao seu nome ao ser considerado o pai da Psicologia da Educação, com a publicação do livro Educational Psychology, em 1903.
Primeira metade do século XX
O que se produzia em termos científicos centrava-se no mundo anglo-saxónico- EUA, em particular, no período compreendido entre o nascimento da própria psicologia científica ( Finais do século XIX) e a década de 50 do século XX. Como fica bem patente na primeira revista sobre psicologia da educação, publicada em 1910, Journal of Educational Psychology, o que distingue a Psicologia da Educação da Psicologia geral é a preocupação da primeira em aplicar o conhecimento psicológico na educação, principalmente à educação escolar. Três áreas de investigação se destacam na altura, elaboração e o consequente surgimento de testes (massivamente utilizados a partir dos anos 30 do século XX) o estudo das diferenças individuais e a análise dos processos de aprendizagem e psicologia da criança. Refiram-se, nos EUA, os contributos de Thorndike com o livro An Introduction To The Theory of Mental and Social Measurement, em 1904 ( a segunda edição é públicada em 1916). Na terceira década, a maioria dos trabalhos no âmbito da Psicologia da Educação reporta-se à construção de instrumentos de medida das capacidades intelectuais e do rendimento escolar com provas para medir o rendimento na matemática e na escrita (Veiga,2013, p.31).
Entre a terceira e a quinta décadas do século XX
Os trabalhos dos psicólogos da educação eram fortemente dominados pela Psicometria com Thurstone a pôr em prática os primeiros testes de inteligência aplicados de forma coletiva e massiva nas escolas, sendo que as décadas seguintes viram confirmada esta tendência do início do século XX. Com Arnould Gessell Psicologia do Desenvolvimento ganha alguma influência nos EUA, mas na Europa é Wallon que merece destaque com o seu plano de reforma escolar, que propõe a democratização do ensino para que a França consiga acompanhar o desenvolvimento de outros países; desenvolve, então o Plan Langevin-Wallon, 1944, que inclui a criação de serviços de psicologia nas escolas. Zazzo, Piaget e seus seguidores da Escola de Genebra (Inhelder, Sinclair, VinhBang), e Vigotsky são outros dos nomes importantes da altura. Freud e os seus discípulos construíram, segundo muitos analistas, importantes teorizações da estrutura do aparelho psíquico e também do desenvolvimento psicossexual com as suas diversas fases tomada como referencia por muitos seguidores de toda a Europa. O desenvolvimento da Psicologia da Educação sofre uma quebra no seu desenvolvimento, após a década de 40 devido à escassa investigação, que tinha perdido muito do fulgor inicial, e pelas dificuldades em delimitar o seu campo específico de atuação.
Em suma- na primeira metade do século XX, a Psicologia da Educação foi essencialmente influenciada pela abordagem comportamental de Thorndike e, posteriormente, de Skinner. Indefinições tanto sobre o seu objeto de estudo quanto ao facto de poderem ou não ser generalizáveis à prática educativa os conhecimentos que entretanto ia adquirindo, é o que se pode dizer para caracterizar a Psicologia da Educação, apesar de todos os avanços, e alguns recuos. Já para não falar na ausência dos limites do seu objeto de estudo- querendo abarcar todas as temáticas- e a heterogeneidade dos assuntos que se propõe estudar e compreender. Como foi referido atrás, não é tanto saber se a Psicologia da Educação teria um caráter aplicado, mas em que consistia tal aplicação e como alcançar esse objetivo (Veiga,2013, p. 32).
Segunda metade do século XX
Um otimismo crescente face à educação caracteriza esta época, com o aumento do investimento e pesquisa na área, aumento da inovação educativa, tendo a Psicologia da Educação beneficiado com o Zeitgest, mas surge também uma maior consciência das dificuldades em integrar os resultados das pesquisas que alimentam a Psicologia da Educação nos vários âmbitos da Psicologia.
Com o aumento do otimismo face à educação, no terceiro quarto do século XX, observou-se também um incremento de investimentos na pesquisa e na inovação educativa, tendo a Psicologia da Educação beneficiado com este clima .Emergiu uma maior consciência da dificuldade em integrar os resultados das pesquisas que alimentam a Psicologia da Educação nos vários âmbitos da Psicologia; alguns acontecimentos culturais, políticos e económicos, na década de 50, alteraram a educação escolar na Europa – a prosperidade económica, a doutrina igualitária na educação, a consideração da educação como instrumento de progresso social e a extensão da escolaridade obrigatória .Nas décadas de 50 e 60, verifica-se um novo desenvolvimento, graças à psicologia cognitiva e aos estudos behavioristas. A importância crescente atribuída à educação escolar, na sociedade da época, faz com que a própria Psicologia da Educação centre os seus esforços no processo instrucional e nas soluções para os problemas encontrados do seio escolar, nomeadamente no processo de aprendizagem e nos conteúdos escolares.
No início dos anos 50
Benjamim Bloom descreve uma taxonomia de competências cognitivas que deveriam ser desenvolvidas nos alunos (Bloom & Krathwohl, 1956), abrindo caminho para a Revolução Cognitiva que veio a ter lugar e dominou a década de 1980, enfatizando os processos cognitivos da aprendizagem . Nos anos 70 e 80, surge uma tendência ecológica e ambiental na investigação educativa, baseada nos gestaltistas e na psicologia ambiental. A Psicologia Cognitiva sobressaiu na explicação dos processos subjacentes à aprendizagem, ao desenvolvimento e às diferenças individuais. A Psicologia da Aprendizagem veio trazer importantes avanços na explicação da aprendizagem, com Skinner (com impacto no ensino programado), com as teorias do processamento da informação, e com psicólogos educacionais como Bruner e Ausubel, que abordam a Psicologia da Aprendizagem e a do Ensino. O interesse dos cognitivistas pelas formas complexas da atividade intelectual levam a considerar, como objeto de estudo, conteúdos específicos, como leitura, escrita, aritmética, resolução de problemas, partes integrantes do currículo das aprendizagens escolares. Nos EUA e mundo anglo-saxónico, a Psicologia da Educação vem a identificar-se com a Psicologia do Ensino, e esta, por sua vez, com a psicologia cognitiva das aprendizagens escolares. Na Europa, as teses desenvolvimentistas são, no entanto, as que fundamentam a Psicologia da Educação tais como : Teoria genética de Piaget, Teoria sociocultural de Vigotsky, Teoria psicossexual de Freud e Teoria Psicossocial de Erikson, ajudando a colocar a Psicologia da Educação num contexto mais amplo, em clara oposição a uma visão reducionista da mesma como se fosse apenas uma Psicologia do Ensino (Veiga, 2013, p.34).
Panorama atual
Em suma, ao perder o ímpeto do reformismo social do início do século XX a Psicologia da Educação adota uma orientação fundamentalmente académica onde o estabelecimento dos parâmetros fundamentais da aprendizagem era o foco mais proeminente, mas também o apuramento das elaborações teóricas e a consagração da Psicologia da Educação como “engenharia aplicada à educação” – que haveria de prevalecer durante a primeira metade do século XX, mais concretamente até finais dos anos 50. Esta abordagem começa a perder relevância a partir dos anos 60 por:
-
Enorme êxito e expansão incontrolada ( leva à perda de coerência interna) e subsequente tentativa de se dedicar a todo e qualquer assunto na área da educação;
-
Tentar resolver qualquer problema educativo;
-
Coexistência de diversas escolas de pensamento;
-
Complexidade da educação;
-
Incapacidade da P.E de chegar a um conhecimento objetivo, unificado e empiricamente unificado;
-
Aparecimento de outras ciências sociais
Ou seja, manifestamente é posta em causa a capacidade da psicologia da educação de traduzir fielmente os conhecimentos psicológicos para a educação ou o ensino a fim de proporcionar uma fundamentação e um caráter científico (Coll,2005, pp. 30-31).
A Psicologia da Educação perde assim o seu protagonismo absoluto no campo da educação tendo de partilhar um espaço que lhe estava reservado, como por decreto, com outras ciências sociais e da educação que são tanto ou mais valorizadas que ela para abordar os temas educativos e melhorar a educação. Obriga, ainda, à avaliação dos seus pressupostos básicos, os seus princípios fundamentais, a sua maneira tradicional de abordar as questões e problemas educativos, o seu alcance, e limitações para proporcionar uma base científica à educação e ao ensino, em suma, a sua missão como âmbito de conhecimento claramente identificável contexto educativo.
Hoje
A Psicologia da Educação foi-se desenvolvendo como uma ligação entre o conhecimento produzido pela investigação psicológica fundamental e os objetivos de explicação e de promoção da ação educativa, constituindo hoje uma área específica de conhecimento, com objeto e método de investigação próprio, bem como uma unidade curricular com conteúdos, objetivos e investigações específicas. No entanto, a Psicologia da Educação está ainda aquém das expectativas que sobre ela recaem, isto devido em parte à enorme importância que lhe é conferida nesta nossa sociedade do conhecimento e à necessidade que tem de resolver os problemas surgidos do meio escolar e social. Sendo a realidade atual complexa e em constante mudança, torna-se importante que a Psicologia da Educação adote uma abordagem multidisciplinar capaz de abarcar essa mesma realidade. Atualmente, a Psicologia da Educação faz assentar muito do seu fundamento em teorias e em pesquisas, não só de áreas mais amplas da Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, como também nas experiências e práticas dos professores (Veiga,2013, p. 34).
Aspetos conceptuais
