


Psicologia da Educação

Quando falamos de intervenção do psicólogo da educação estamos a referir-nos a uma das seguintes três áreas objetivo: indivíduo, organizações, e comunidade.
Estas três áreas estão, de facto, interligadas. O indivíduo influencia e sofre influências do meio, sofre impacto das organizações -sejam a escola, a empresa ou a associação desportiva- e estas resultam da forma como a comunidade entende dever ser a sua estrutura.
É nestas áreas que existem os factores que se relacionam com os comportamentos, ou mudança de comportamentos, quer sejam os intrapessoais, os interpessoais ou os relacionados com as situações de aprendizagem (Salvador, Mestres, Goñi & Gallart, 1999, p.53).
Estamos em presença de um eco-sistema tal como foi definido por Urie Bronfenbrenner em 1979, em que as pessoas, as atividades dos indivíduos e as relações interpessoais são o microsistema e o conjunto de microsistemas formam um mesosistema. A envolvente com a qual o indivíduo não está directamente em interacção, mas que o afecta ou por ele é afectado constitui o exosistema. Há ainda o macrosistema que, a partir de crenças ideologias estruturam os outros sistemas (Thomas, 1996, pp. 55-56).
Daqui decorre, tal como definido por Trilla (1993), que a intervenção é possível ao longo da vida, de forma sistémica, relacional, comunitária seja em contexto formal, não formal ou informal e portanto em diversas formas de práticas educativas, desde as escolares, no âmbito da família, extra-curriculares, ao nível dos media -como a televisão (Couceiro, p.32)
Um modelo de intervenção foi proposto por Cole & Sigel (1990, p.8)
focando a intervenção preventiva em diferentes níveis (tal como ilustra o modelo
apresentado na figura 1):
- primária, beneficiando todos os estudantes;
-secundria, beneficiando os estudantes em risco;
-terciria, para estudantes que experimentem dificuldades significativas.
Aos nveis considerados poderamos acrescentar o nvel comunitrio fornecendo
informando e ajudando a estabelecer estratgias e procedimentos (Wolfendale, 1996, p.12).
Indivíduo
Trata-se, sobretudo, de intervenção direta e individual. Poderá ser preventiva ou remediativa.
Quem são os indivíduos objeto da intervenção?
As crianças, os pais, os professores, os profissionais que aspiram a maior conhecimento, e ainda as pessoas que procuram a auto-realização.
As crianças são trazidos, habitualmente, ao psicólogo porque "alguma coisa não está bem", seja pelos pais, seja pelas instituições que frequentam. Procuram uma modificação do comportamento. Haverá que analisar os fatores relacionados com essa possível modificação.
De acordo com Salvador, Mestres, Goñi & Gallart (1999) poderíamos identificar:
"o nível de desenvolvimento; a maturidade intelectual, emocional, relacional e psicomotora; as experiências e os conhecimentos prévios; as características atitudinais..., afectivas..., e de personalidade"(p.53).
Mas este "alguma coisa não está bem" não significa necessariamente que exista uma crise que seja necessário resolver. A consulta terá, neste caso, uma função preventiva -secundária, prevista quando ainda não se manifestam dificuldades ou problemas (Couceiro, p.37)- até de aconselhamento (vocacional, ou não). Poderá até acontecer que “alguma coisa não está bem” resulte de um enviesamento cultural, rácico ou social. A pergunta chave é: "que pode ser feito para ajudar" o indivíduo? (Cole & Sigel, 1990, p.10)
Os conhecimentos e experiência do psicólogo são relevantes para separar os diferentes casos quer através de entrevista, quer através de instrumentos de avaliação, ou ainda através da observação baseada em critérios (Couceiro, p. 49). Sejam as questões de aprendizagem ou sejam questões de comportamento, elas serão avaliadas de forma objetiva, tendo sempre em conta o contexto, e visando melhorar as capacidades da pessoa bem como a adequação do seu comportamento às suas escolhas (Sigston, 1996, p.22).
Se esta melhoria de capacidades e de adequação resultam sempre do esforço do sujeito, não é menos verdade que muitas vezes estamos em presença de um processo sistémico que envolve pais e professores (e muitas vezes a comunidade próxima).
Este fato põe em evidência a necessidade de o psicólogo ser facilitador da solução preconizada, o que exige dele capacidade para promover relacionamentos de qualidade, lidar com diferentes visões dos problemas e assegurar o compromisso com a ação (Sigston, 1996, p.27).
Na realidade a não adequação pode resultar da forma como as aulas são dadas, do programa escolar, da forma como a sala de aula está disposta, do bairro onde está inserido e mesmo da influência das políticas sociais e económicas na família (Thomas, 1996, p. 59).
O texto de Roxane Moreno (2010) é elucidativo de como as diferenças - neste caso culturais - podem provocar um comportamento tido por desadequado
Nestas culturas [asiáticas] ensina-se às crianças o valor do grupo em vez de sucesso individual; consequentemente os estudantes sentem-se mais confortáveis a trabalhar com outros, ou ajudar os outros nos trabalhos… Se forem criticados por partilhar os seus trabalhos com os seus colegas (que os professores interpretam como “copiar”) ou forem obrigados a competir em vez de cooperar com os seus colegas, estes estudantes podem rebelar-se ou desistir(…)(pp. 29-30).
A intervenção primária entendida como forma de antecipar o não surgimento de problemas, dificuldades ou riscos (Couceiro, p. 36) tem aqui aplicação eficaz.
Organizações
A intervenção no plano das organizações desenvolve-se, sobretudo, de forma indireta, a nível grupal ou mediada. Também aqui pode ser preventiva ou remediativa.
Entre as organizações destaca a Escola, mas não podemos esquecer as empresas, as associações culturais e desportivas, museus e até mesmo feiras industriais. Poderá estranhar-se a referência a empresas e feiras industriais. No entanto o desenvolvimento é cada vez mais encarado como fazendo parte de qualquer fase da vida. Por outro lado o desenvolvimento das pessoas é encarado como "um meio para atingir os objetivos organizacionais e efetuar a mudança” (McCarthy, 1996, p. 86). Trata-se de desenvolvimento, enriquecimento, potenciação, cultura (Couceiro, p. 20).
Há autores que defendem que é ao nível das organizações e trabalhando através de outrem que se obtêm os resultados mais eficazes em psicologia da educação (Dessent, 1996, p. 39).
Aqui, tal como na comunidade, é possível, na visão de Fox & Sigston (1996), estabelecer estratégias de intervenção que passem, não só por ações "curativas" e de "limitação de danos", mas também preventivas (Wolfendale, 1996), de "promoção de ambientes psicologicamente saudáveis"(p.12).
O estabelecimento dessas estratégias pressupõe conhecer os fatores que influenciam a aprendizagem tais como "as características do professor; as condições materiais em que se desenvolvem as atividades escolares; a metodologia do ensino utilizada; o contexto institucional; as dinâmicas de grupo e as relações interpessoais" (Salvador, et al., 1999, p.53).
Thomas (1996, p. 62) relata experiências que sugerem que a tipologia da sala de aula (tradicional, em grupos ou em círculo) influenciam o empenhamento dos alunos. Mais, mostram que a interacção dos professores com os diferentes alunos varia com essa tipologia.
No caso dos adultos também é importante ter em atenção estes fatores, sabendo-se que preferem um ambiente informal para as suas aprendizagens e que de, acordo com Smith (1983, cit in McCarthy, 1996), "o medo, ansiedade e resistência acompanham e inibem, frequentemente, a mudança"(p. 89).
Há um aspeto importante na aprendizagem do adulto: a do professor. Aqui o psicólogo da educação poderá ter um papel de relevo ao utilizar as suas competências. Não só em seminários formais - ajudando no estabelecimento de algumas práticas educativas mais eficazes, mais satisfatórias e mais enriquecedoras para as pessoas que delas participem (Coll et al., 2000, p. 65) - , mas também informalmente quando se analisam avaliações individuais dos alunos, procurando a partir destes uma generalização de princípios que conduzam à compreensão dos processos envolvidos e ajude à mudança de comportamentos (McCarthy, 1996, p. 95).
Nestes locais coloca-se à questão de saber ao serviço de quem está o psicólogo. Quem é em última análise o cliente? Estando o psicólogo dependente do ponto de vista económico (e não só) da organização, vê-se perante o dilema de colocar as necessidades do sujeito acima dos interesses do seu empregador, ou do seu chefe. Seja porque a criança gasta demasiados recursos (económicos ou humanos), ou porque o trabalhador não produz o suficiente (Sigston, 1996, p.19).
É possível que a intervenção do psicólogo seja feita "à tarefa". Por exemplo treinar os professores para trabalhar com crianças com necessidades educativas especiais. Neste caso o psicólogo funcionaria como consultor (Labram, 1996, p.72), que possui conhecimentos, competências, visão ou metodologias (Fox, 1996, p.124) específicas.
Outra forma de exercer consultoria é trabalhar com os membros das organizações por forma a diagnosticar eventuais problemas e ajudar a encontrar as respetivas soluções.
De acordo com David (1990, p.55) a "consultoria hoje pode ser pensada como um continuum, indo desde um nível de especialista com elevados conhecimentos até a uma aproximação claramente de facilitador".
Deve realçar-se que este trabalho de consultoria traz problemas éticos específicos, nomeadamente no que diz respeito à confidencialidade e a conflitos de interesse.
Comunidade
É a comunidade que determina a forma como se organiza, que promove expectativas de conhecimento, que determina o grau de rigor e define comportamentos socialmente aceitáveis. E que direitos, necessidades e oportunidades serão reconhecidos e fornecidos a cada um igualitariamente, mas sobretudo nas suas diferenças.
É ao nível da comunidade que o psicólogo da educação poderá ver a sua intervenção ter resultados mais abrangentes, ao ajudar a elaborar modelos, estratégias e procedimentos e ainda instaurar práticas enriquecedoras (Salvador, et al., 1999, p.48). Lembremos a intervenção de Binet a pedido do Ministério da Educação Pública de França no início do século XX.
Estas estratégias e modelos ajudarão a reduzir ativamente a necessidade de trabalhar as pessoas individualmente, limitando-os aos casos excecionais, imprevisíveis ou verdadeiramente únicos (Dessent, 1996, p. 35). Mas devemos ter em atenção, ainda de acordo com Dessent (1996), que os casos individuais "coloca os psicólogos da educação numa posição única e privilegiada 'vis-á-vis' a escolas como instituições e ao ambiente educacional e à comunidade fora das escolas"(p. 35).
Quando falamos de comunidade não podemos esquecer os fluxos migratórios que se intensificaram nos últimos anos. Estes fluxos colocam algumas questões que deverão ser considerados pelos psicólogos da educação. Por exemplo, os motivos da migração -voluntária, por razões económicas, devido à guerra -ou ainda a idade dos migrantes -crianças, adolescentes adultos (Cole & Siegel, 1990, pp.142, 143). Também não é despiciendo o modo como os migrantes são acolhidos. Estes fatores podem levar a situações com "sentimento de perda, desorientação, desânimo" que se refletirão na adaptação escolar e na aprendizagem, tal como referem Samuda e Crawford (cit. por Cole & Siegel, 1990, p.143).
Intervenção do Psicólogo da Educação
Intervenção

