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Observação Direta

 

          Mash e Terdal (1976) definem a Observação Direta como sendo um método que visa, numa situação natural ou análoga, obter amostras de comportamento e identificar situações relevantes do ponto de vista clínico (para a avaliação, diagnóstico, prognóstico, planeamento e medida de eficácia da intervenção).

          Por sua vez Barton e Ascione (1984) conceptualizam-na como um processo de registo de comportamentos manifestos (verbais e/ou motores) com base em definições operacionais destes comportamentos, levado a cabo por observadores humanos.

 

 

          Um dos fundamentos da observação direta na avaliação psicológica passa por esta última ser um processo multi método, multi informador e que recorre a informação oriunda de múltiplos contextos, sendo que este procedimento de avaliação direta permite contrapor, complementar, compreender e pormenorizar a informação obtida por métodos de avaliação indiretos (como entrevistas, escalas de avaliação do comportamento, …).

          Para além disto, em situações em que se avalia pessoas com atrasos desenvolvimentais, ou pessoas muito resistentes ao processo de avaliação, ou mesmo em crianças muito novas, este método poderá constituir o principal meio de avaliação.

 

          Apesar de a Observação Direta surgir enquanto método mais objetivo, rigoroso e exato (comparativamente a outros métodos de avaliação psicológica), há certas limitações inerentes a este método tais como enviesamentos cognitivos e heurísticas por parte do observador - tal como refere Simões (1993) -, há também muitas variáveis que não são acessíveis à observação direta (como as variáveis cognitivas) e o domínio de interesse está circunscrito a comportamentos objetivos, exigindo o registo do comportamento no momento da sua ocorrência. Para além disto supõe a existência quer de regras específicas relativas ao momento e contexto das observações, quer de sistemas e procedimentos de registo das observações, requerendo também o uso de definições operacionais do comportamento, previamente definidas, que envolvam um grau mínimo de inferência, implicando assim o recurso a observadores treinados (independentes) que coligem informação acerca do comportamento objetivo – envolvendo também algum procedimento para avaliar a fiabilidade do sistema.

 

 

          O processo de observação direta envolve 2 etapas cruciais: a seleção do (s) comportamento (s) relevante (s) a observar e a seleção da técnica de registo a empregar.

         

          Na definição operacional do comportamento deve-se evitar a ambiguidade inerente a termos gerais ou vagos, devendo também a definição cingir-se a aspetos observáveis do comportamento de modo a tornar a avaliação da presença (ou ausência) do comportamento alvo o mais fácil e objetiva possível, estabelecendo um conjunto de regras práticas de decisão para detetar os comportamentos a ser registados (e distingui-los de outras respostas, fornecendo exemplos de comportamentos marginais - que suscitam dúvidas quanto à sua consideração - e de outros claramente não contemplados pela definição).

 

 

          Aos 2 tipos mais comuns de Observação Direta – a observação naturalista e a observação análoga (ou laboratorial) – podemos também acrescentar a observação do comportamento livre e o role play.

 

 

Observação naturalista/em meio natural (método mais direto e menos inferencial)

         Trata-se de uma amostra direta do comportamento (“tal como ele ocorre”, no tempo e lugar da sua ocorrência). Por exemplo, no caso de observações em casa normalmente atenta-se a interações pais-criança, á capacidade da criança para obedecer a regras e a ordens, á respostas dos pais ao comportamento da criança. No caso, por exemplo, de observações na escola atenta-se á capacidade da criança para estar sentada e prestar atenção, á quantidade de trabalho realizado (sendo também interessante prestar atenção á qualidade deste trabalho) , á interações estabelecidas com os professores e com os colegas em sala de aula bem como ás interações no recreio.

         Contudo este tipo de observação tem certas limitações, entre as quais se destacam o facto de poder criar reatividade no observado (pois há alguém estranho presente – o que tem um impacto maior inicialmente), bem como de se tratar de um método que exige muito tempo e é pouco económico (na medida em que exige a permanência no local onde ocorre dos observadores e material de observação, durante todo o tempo), não sendo assim adequado para comportamentos pouco frequentes, ou que apenas ocorrem quando o individuo se encontra sozinho.

 

 

 

         Uma variante deste tipo de observação direta é a Observação Participada, a qual é conduzida por pessoas que fazem parte do meio do sujeito ou pelo próprio (sendo essas pessoas treinadas na observação e registo dos comportamentos alvo).

Esta variante permite não só diminuir os custos e reduzir a potencial reatividade de procedimentos intrusivos, bem como é também útil para empregar em comportamentos pouco frequentes ou em sujeitos (e comportamentos) altamente reativos a observadores externos.

         Algumas das limitações a ter em conta são a inexatidão do observador no uso do sistema de codificação comportamental, os enviesamento do observador (muito influenciados pela história de interação com o observado, bem como pela potencial influência do rótulo diagnóstico colocado ao observado – o estigma associado, por exemplo, a determinado rótulo diagnóstico).

 

 

 

Na Observação análoga (ou laboratorial) a observação ocorre em cenários construídos comparáveis ou o mais próximos possível do meio natural.

         Neste tipo de observação pode-se antever que o grau de similitude entre o cenário artificialmente construído e as caraterísticas do meio natural é diretamente proporcional á possibilidade de as observações serem representativas dos comportamentos dos diversos intervenientes em meio natural.

         Este tipo de observação não só tem a vantagem de permitir um melhor controlo de variáveis situacionais, como ainda permite simultaneamente reduzir o tempo e custos associados à observação naturalista e maximizar a possibilidade de o comportamento se manifestar (muito útil quando se trata de um comportamento de baixa frequência). Também se revela de particular utilidade quando existem restrições físicas à observação naturalista.

         Contudo poderão existir problemas de generalização associados, os quais podem ser minimizados tornado a situação análoga tão próxima da realidade quanto possível.

 

Na observação do comportamento livre não são colocados quais queres constrangimentos artificiais ao sujeito, pelo que ele responderá de acordo com o modo que lhe é típico.

 

No Role play interação ocorre de modo estruturado, tendo em vista o fazer surgir determinado comportamento específico.

 

 

 

 

Existem várias técnicas de registo que podem ser auxiliadas por vários instrumentos (tais como contadores, cronómetros, grelhas de papel-e-lápis, dispositivos eletrónicos, computador,…)

 

+Narrativo

+Duração (Latência)

+Frequência

+Por Intervalos

+Por Classificação

 

+Registo Narrativo (método essencialmente qualitativo)

         Trata-se de um processo obtenção de amostras nos vários contextos e períodos de tempo em que o comportamento alvo é exibido, limitando-se o observador a tomar nota dos comportamentos que ocorrem.

         Esta revela-se útil na definição de áreas mais específicas que podem, depois, ser observadas usando técnicas quantitativas, sendo as suas principais vantagens o facto de permitir identificar comportamentos relevantes, não requerendo qualquer tipo de equipamento complexo, e podendo sugerir hipóteses acerca de fatores que controlam o comportamento-alvo (e que permitem o desenvolvimento da análise funcional do caso).

         Contudo depende em grande medida da perícia do observador, não é suscetível de quantificação e para além disto é uma técnica frágil do ponto de vista da sua validade. 

 

 

+Registo de Duração

         É uma medida direta do tempo empregue em determinado comportamento pelo observado (implicando o registo do tempo que decorre entre o início e o fim desse comportamento – por exemplo, o tempo que passa a ver televisão) podendo ser também uma medida de latência (entre um estimulo e o inicio do comportamento, por exemplo).

         Este tipo de registo é empregue para registar comportamentos quer contínuos, quer discretos, e cujo tempo de duração é de pelo menos alguns segundos.

 

 

+Registo de Frequência

         Consiste no registo do número de vezes que um comportamento ocorre num determinado intervalo de tempo pré-estabelecido, sendo uma técnica indicada para o estudo de comportamentos de baixa frequência, descontínuos (e fáceis de delimitar) e que levem aproximadamente a mesma quantidade de tempo.

 

 

+Registo por Intervalos

         Diz respeito ao registo da presença ou ausência de um determinado comportamento (ou de vários comportamentos pré determinados) em séries iguais de intervalos sucessivos de tempo.

         A duração total do período de observação não pode exceder os 60 minutos e cada sessão é dividida em pequenas unidades de tempo (5 a 30 segundos) em que é registada a ocorrência do comportamento em cada unidade de tempo pelo observador. Cada unidade de tempo ainda pode ser subdividida em períodos de tempo sucessivos (um primeiro para observação do sujeito quanto à ocorrência do (s) comportamento (s) alvo e um segundo para proceder ao registo).

         Para definir o tamanho do intervalo deve-se considerar a frequência do comportamento (uma maior frequência implica um menor o intervalo.

         Esta técnica é indicada para comportamentos de frequência moderada (uma vez a cada 5 a 20 segundos), que não possam ser avaliados por outras técnicas, e também para o registam várias respostas em simultâneo e/ou quando se observa simultaneamente mais do que um sujeito.

         No entanto algumas das limitações desta técnica são o facto de não avaliar a qualidade do comportamento (podendo não captar importantes elementos) e também a exigência de uma aprendizagem mais demorada e mais prática.

 

 

+Registo por Classificação

         Envolve a classificação do comportamento numa escala ou inventário (habitualmente no final do período de observação), sendo útil para avaliar aspetos mais globais do comportamento e para quantificar impressões gerais do avaliador, por exemplo, após a aplicação dum teste

         Esta técnica constitui uma técnica económica (em termos de tempo e recursos materiais), permitindo também ultrapassar alguma fragmentação de informação associada à contagem de comportamentos e avaliar o comportamento numa perspetiva qualitativa e unitária que é inacessível a outros sistemas de codificação mais moleculares e objetivos. Não obstante, envolve maior grau de subjetividade, relativamente a outras técnicas, da parte do observador, o que poderá ser minimizado se as classificações forem elaboradas imediatamente após o final da sessão de observação.

 

 

          Em suma podemos dizer que a observação direta é particularmente útil quando existem expetativas irrealistas por parte de informadores adultos (por exemplo, aquilo que os pais acham que deveria ser o comportamento dos filhos ao nível da sua realização académica, sem ter em conta os pontos fracos e aos recursos cognitivos da criança, ou outras dificuldades) e também no caso de queixas vagas. Para além disto a observação direta é uma técnica que possibilita uma maior validade ecológica (face a outros métodos de avaliação), conferindo uma maior validade e fidedignidade á descrição de comportamentos, facilitando também a elaboração da analise funcional dos problemas.

          No entanto a observação direta comporta também algumas limitações, como a ausência de normas e os limites á generalização (em que medida a situação no consultório consegue mimetizar a situação na vida real), bem como o facto de se circunscrever a comportamentos manifestos, a possibilidade de ocorrer reatividade, os tipos de erros que lhe estão associados (nomeadamente os erros do observador – enviesamentos cognitivos - e ao sistema de codificação e registo) e ainda a relação custo eficácia. 

© 2015  Grupo 8 de Psicologia da Educação da FPCEUC

 

António Morais Diz          2012121459

 

Manuel Vicente Farinha   2012135569

 

Marco Silva Martins        2012119151

 

Maria Isabel Santos        2012121111

 

Maria João Varela           2012119190

 

Pedro Jorge Silva           2011128923

 

 

 

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